"Pelos melhores ou piores motivos, a família carrega-se toda a vida, ou por várias vidas, mais ou menos no coração, ou mais ou menos às costas. "
"For better or worse reasons, we carry family for a lifetime, maybe for several lifes, more or less in the heart, or more or less on our back."
A história de uma família tem um antes e um depois que não se sabe onde começa e onde acaba… contam os antepassados, as memórias inconscientes da infância, as aparentes banalidades do presente, os sonhos que depositamos no futuro dos descendentes, os que ficam para continuar a história…
Muitas pessoas dizem que a família não se escolhe. Mas muitas acreditam que se escolhe ao mais ínfimo detalhe, noutra dimensão.
Qualquer que seja a crença de cada um, poucos negarão o “peso” da família nas suas vidas. Pelos melhores ou piores motivos, a família carrega-se toda a vida, ou por várias vidas, mais ou menos no coração, ou mais ou menos às costas.
Até onde consigo recuar, encontro na minha avó um “princípio”.
Ela tem um nome invulgar - Imponina. Sempre achei que Imponina vem de Imponente. De alguém que se impõe. No caso dela, uma alma doce que a vida tentou amargurar mas não conseguiu. Alguém que se impôs às muitas contrariedades que encontrou, alguém que se impôs ser feliz, mesmo carregando o peso de um início de vida difícil.
Construiu uma enorme e unida família, e viveu um casamento longo e feliz. Mimou as filhas, os genros, e os tantos netos, sempre com uma entrega incondicional.
Na sua pequena e simples casa vivi muita da minha infância, e com pouco fazia-se a festa, porque amor e alegria nunca faltaram. Foi uma casa cheia, foi uma casa feliz. E parte de mim formou-se ali.
Hoje esse clã já não partilha da união de outros tempos. Uns estão longe, outros afastaram-se embora estejam perto, por razões que não importam tanto agora que os anos passaram.
O meu avô partiu, mas a Imponina continua a viver na sua casa. É acarinhada pelas filhas mas já não as consegue juntar todas ao mesmo tempo, como antigamente. Os netos seguiram as suas vidas, longe, também não se juntam, e visitam-na esporadicamente. A casa está vazia de gente. Mas cheia de memórias.
E eu decidi fotografar a casa, a Imponina, e as nossas memórias. Quero que permaneçam para sempre, não só na minha cabeça, mas também nas minhas imagens.
Este projeto conta comigo, com ela, uma câmera fotográfica e um tripé. No nosso “acordo” está também o meu compromisso de organizar e salvaguardar todas as fotografias antigas que ela tem atiradas para uma caixa. Uma caixa onde está a nossa história.
Ainda não sei o nome que este projeto terá como título, mas por enquanto gosto de lhe chamar “viagem no tempo”.
A family story carries more than what we can remember. It’s made of our ancestry, our unconscious memories, our apparently ordinary present, the dreams and hopes we nourish for our successors, the ones who will remain to continue our story. It’s hard to know where it began and where it will end.
Many people say that we do not chose family. But many believe that we accurately do, in another dimension.
Whatever we believe in, few would deny the "weight" of family in their lives. For better or worse reasons, we carry it for a lifetime, maybe for several lifes, more or less in the heart, or more or less on our back.
As far back as I can go, I find my “beginning” in my grandmother.
She has an unusual name - Imponina. I always thought Imponina comes from “Imponente” (in portuguese). Someone who imposes. In her case, a sweet soul that life tried, but failed, to embitter. Someone who imposed to live a happy life, even carrying the weight of a difficult start.
She built a huge and united family, and lived a long and happy marriage. Spoiled her daughters, her sons in law, and many grandchildren, always with unconditional love.
In her small, simple house I lived a happy childhood, making the most out of less, and that’s an important part of who I became.
Today, this family no longer shares the union of those times. Some are far away, others live close but apart, for reasons that don’t matter anymore, now that the years have passed.
My grandfather died recently, but Imponina wants to stay in their home, as long as she can, even being on her own. She is nurtured by her daughters but no longer can join them all at once, as before. Grandchildren followed their lives away, don’t get together anymore, and visit her occasionally.
The house is empty of people. But full of memories.
And I decided to photograph the house, Imponina, and our memories. I want it to last forever, not only in my mind but also in my photographs.
This project is about me, her, memories, a camera and a tripod. In our "agreement" I also committed to organize and safeguard all the photographs, postcards and letters she has tossed in a box for all her life. A box that holds all her / our, family stories.
I am not sure about the project’s name, but so far I like to call it “a journey back in time”.